Introdução

Por Raul Manuel Coelho

O crescente interesse das pessoas pelo conhecimento da história e da cultura, local e regional, tem acompanhado o maior nível de instrução alcançado pelas populações e, bem assim, a necessidade e o gosto sentidos em valorizar as suas raízes, em preservar o património local, o qual consubstancia e testemunha a respetiva identidade, esta um elemento-chave num qualquer processo, ou estratégia, de desenvolvimento humano, social e económico.

Com o andar dos séculos, à medida que a escala geográfica das relações socioeconómicos se foi, gradualmente, alargando ao espaço planetário, os traços culturais e de identidade, que carregamos, fácil e rapidamente se foram recombinando. De tal dinâmica resultou um indiscutível potencial e diversificados efeitos positivos, mas, também, o risco de, muitas vezes, alguns dessas características próprias se perderem, de serem desvalorizadas, destruídas, ou tão só ficarem esquecidas.

Se, por um lado, há muitos aspetos culturais que, com a evolução da civilização Humana, importa mesmo ultrapassar, o que tarda em muitas partes do Mundo, e em cada um de nós, por outro, o desaparecimento de outros compromete a diversidade e a riqueza culturais, empobrecendo a Humanidade como um todo e as comunidades regionais e locais de sobremaneira.

A Vila do Avelar, como muitas outras, infelizmente, ainda não brilha entre as terras onde o estudo da sua história, a preservação da sua memória coletiva e do seu património histórico, natural e cultural, é um valor e, consequentemente, uma prioridade.

Quem aqui passa, dificilmente dirá que esta localidade foi, ao longo de muitos séculos, sede de um Concelho, com o inerente centro histórico, este hoje irreconhecível, e que o seu Povo é herdeiro e descendente de uma comunidade milenar pré-Romana.

Porém, o amor à sua Terra sempre foi uma característica das gentes do Avelar. Há cem anos, a 12 de novembro de 1921, o dia e festa da Vila que então se celebrava desde 1917 com o concurso de toda a região das Cinco Vilas e Cumieira, tradição que vem sendo mantida, sobretudo com o empenho da Filarmónica Avelarense, o jornal comemorativo da inauguração, nessa ocasião, de uma nova feira, encerra afirmando na última página: “O progresso duma terra avalia-se pelo carinho que por ela têm os seus habitantes. E em carinho pela sua Terra, nenhum outro excede os do Avelar”. Esta motivação era patente no desenvolvimento que o Avelar então registava e que perdurou durante o meio século que se seguiu.

Os antigos filósofos gregos bem diziam “a memória é o escriba da Alma”. Memória que regista, entesoura e revela, qual sinónimo de alma, o que somos. Oportuno e brilhante é, pois, o recente nascimento formal da AMA – Associação Memória Avelarense, onde todos nós, naturais, moradores e amigos do Avelar, temos lugar.

Com a regularidade que nos for possível, procuraremos dar satisfação ao amável convite da Direção do Jornal Horizonte para, nesta coluna, sinteticamente, partilhar alguns dos dados, informações, documentos e conjeturas que na última década fomos reunindo sobre o passado Avelarense.