Senhorio nos séc. XVI
Por Raul Manuel Coelho
Aos poucos, temos vindo a referenciar diversos fidalgos que, em tempos de monarquia, detiveram o senhorio das Cinco Vilas e, por conseguinte, das Terras Avelarenses.
Como vimos, com alguns privilégios já detidos no século XIV no Avelar, retomados e consolidados no século XV, a família dos Meneses constituiria uma das mais importantes casas nobiliárquicas do Reino, sob os títulos de condes e marqueses de Vila Real, à qual também pertenciam os direitos reais e diversos privilégios das, a partir de então muitas vezes designadas, Cinco Vilas de Chão de Couce.
Se o neto e homónimo do fundador desta casa, Dom Pedro de Meneses II, granjeou o favor do Rei Dom João II pelo apoio no conflito e morte do Duque de Bragança, com a subida ao trono de Dom Manuel I, e consequente reabilitação dos Bragança, os Vila Real viram-se na contingência de ceder o prestigioso título de conde de Ourém. Porém, habilmente, alcançaram outros, como o de conde de Valença do Minho.
Sucedera, entretanto, a Dom Pedro de Meneses II, o seu filho, Dom Fernando de Meneses. Este foi, também com mérito, capitão de Ceuta; tendo casado com Dona Maria Freire de Andrade, senhora de Alcoutim, pelo que o Rei Dom Manuel I, o fez também, e à sua descendência, conde de Alcoutim. Um dos seus filhos, Afonso de Noronha, viria a ser vice-rei na Índia.
Dom Fernando de Meneses, seria um homem culto; conhecera e correspondia-se com Cataldo Sículo, humanista siciliano que viveu em Portugal como precetor, inicialmente contratado por Dom João II, tendo cá publicado algumas obras. Cataldo participou na educação do filho de Dom Fernando de Meneses, seu sucessor, Dom Pedro de Meneses III.
Seriam irmãos de Dom Fernando de Meneses, entre outros: Diogo de Noronha, comendador-mor da Ordem de Cristo; João de Noronha, prior-mor do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra; e António de Noronha, 1º conde de Linhares.
Este António de Noronha, o “narizes”, foi igualmente capitão de Ceuta, onde perdeu o nariz numa caçada ao leão, tendo exercido um dos mais importantes cargos da época, o de escrivão da puridade, no reinado de Dom Manuel I. Seria, também, dono do Alcouce de Lisboa. Foi o pai de Dom Francisco de Noronha, 2º conde de Linhares, marido de Dona Violante de Andrade, comendador da Ordem de Cristo, e comendador de São Martinho (do Bispo), junto a Coimbra, onde Luís Vaz de Camões viveu algum tempo, por ter estado ao serviço desta família fidalga. Dona Violante terá sido a grande paixão amorosa de Luís de Camões; inspiração de boa parte da sua magnífica obra poética. Motivo este, aliás, para que os Noronha tivessem “perseguido” o poeta, nomeadamente, o dito vice-rei no oriente.
Passando por aqui a principal estrada real, e tendo o amo de Camões, o dito conde, um primo, o dito marquês, que amiúde estava com a sua corte na Quinta senhorial (atual quinta de Cima), não é descabido pensar que o poeta possa por aqui ter passado algumas vezes.
Apesar da outorga dos forais novos em 1514, também nas Cinco Vilas, com reincidência, estes senhores marqueses extravasavam os seus poderes, interferindo com as instituições concelhias e usurpando as prerrogativas reais. Tal se terá verificado também no tempo de senhorio de Dom Pedro de Meneses, o terceiro. Em 1525, por exemplo, Soeiro Mendes, corregedor da Comarca da Estremadura, deu conta ao Rei Dom João III (registo na imagem) de ter suspendido o marquês de Vila Real das jurisdições das Cinco Vilas e das rendas e direitos de Chão de Couce e Pousaflores, em virtude da sentença na alçada, a qual suspensão, porém, seria logo levantada.
Sucedeu a Dom Pedro de Meneses III o filho, Dom Miguel de Meneses, também capitão de Ceuta, 4º Marquês de Vila Real; este casou com a prima Filipa de Lencastre, mas não teve descendência, pelo que lhe sucedeu, na casa de Vila Real, o seu irmão Dom Manuel de Meneses, o qual, pragmaticamente, viria a apoiar o partido castelhano na corrida à sucessão no trono do reino de Portugal, após 1580.