O século XVIII – 1ª parte

Por Raul Manuel Coelho

O Avelar, ao longo do século XVIII, acompanhando os tempos tal qual estes se desenrolaram na região, acentuava algumas das suas especificidades.

Tanto quanto, com segurança, os documentos conhecidos permitem supor, o culto da Senhora da Guia, estaria até então circunscrito à localidade. Porém, rapidamente, no decorrer das primeiras décadas desse século, notabilizou-se, aqui acorrendo romeiros oriundos, a cada ano, de maior distância. Assim, antes de meados desses anos setecentos, já as avultadas esmolas e outros rendimentos da Ermida da Senhora da Guia eram alvo de disputa pela respetiva administração.

Resolvida a contenda em favor dos representantes do Concelho do Avelar, pelo Infante, futuro Rei consorte Dom Pedro III, logo se tratou de ampliar o respetivo Templo, com a construção da atual Capela, hoje Igreja Matriz, datada de 1767, mas, cuja conclusão só ocorreria algumas décadas depois. Concomitantemente, também se requereu autorização real para a realização de uma feira com caráter regular, com o propósito de servir todas as Cinco Vilas, o que, coincidência ou não, só foi conseguido no dito ano, mesmo a tempo da romaria de Nossa Senhora da Guia do Avelar e feira anual.

Com referências conhecidas na documentação antiga, será desse mesmo século a colocação do forno da Senhora da Guia no topo de uma imponente escadaria, na parte mais alta do seu largo terreiro, de modo a que todos melhor pudessem assistir ao ritual do Bolo.

Tratando-se de uma região composta por pequenas Vilas e por simples lugares dispersos em seu redor, os dados conhecidos, apesar do respetivo fraco grau de rigor, apontam para a ideia de que, localmente, o Avelar seria já a Vila de maior dimensão, logo depois de Vilas um pouco mais distantes, tais como, Penela, Alvaiázere, Figueiró dos Vinhos e Pedrógão Grande. No início desse século, segundo a Corografia então publicada pelo Padre Carvalho da Costa, a Vila do Avelar contava com 45 vizinhos; Maçãs de Dona Maria, Ansião e Abiúl, 40 vizinhos cada; Aguda 25; Chão de Couce teria 30 vizinhos; Pousaflores nenhum. Por vizinho pode entender-se, grosso modo, cada chefe de família, pelo que é razoável estimar a população total multiplicando tal número por quatro. O Concelho do Avelar somava 200 vizinhos, o da Aguda 125, Maçãs de Dona Maria 350, Pousaflores 306. O concelho de Chão de Couce contava apenas 60, contudo, somados os vizinhos de toda a paróquia, eram 230; com efeito, grande parte do território daquela freguesia ainda pertencia ao Concelho de Penela.

Duzentos anos antes, aquando do numeramento de 1527, os dados apurados em cada uma das vilas foram os seguintes: Chão de Couce 14 vizinhos; Aguda 11, Maçãs de Dona Maria 39; Pousaflores 1 e o Avelar 22, esta nação com 88 vizinhos em todo o concelho. O lugar de Ansião, ainda parte do Concelho de Coimbra, contou 24 vizinhos, totalizando 67 com os lugares e casais em seu redor.

Em 1755 também nesta região se sentiu o violento terramoto que destruiria Lisboa. Porém, ninguém por aqui terá morrido, registando-se, todavia, muitos e diversos estragos materiais, e ainda o relato de alguns fenómenos fora do comum.