Antepassados – séc. XVI e XVII

Por Raul Manuel Coelho

Em tempos passados de aristocracia, também nas Terras das Cinco Vilas, tal como um pouco por todo o lado, reis e grandes nobres, usavam as inerentes prerrogativas para aqui agraciarem e colocarem pessoas da sua corte, ou ao seu serviço, em diversos cargos, tais como: ouvidor, tabelião, escrivão, alcaide.

Ainda que as comunidades locais fossem relativamente estáveis e fechadas sobre si, deste movimento de gentes, ao longo dos séculos, muitos foram partindo e chegando. Os que aqui se instalaram, integrando-se nas dinâmicas regionais, estabeleceram, por vezes, laços de parentesco com as gentes daqui, nomeadamente, pelo casamento, mas não só.

Reportando-nos aos séculos XV e XVI, fosse por mão do Rei, por ação dos marqueses de Vila Real, ou por mote próprio, é possível identificar algumas pessoas que, por oportunidade, qualificações, posição ou acaso, terão vindo para esta região. Por exemplo, nos anos quinhentos do milénio passado, época em que a documentação antiga se tem tornado mais acessível, podemos constatar que chegaram a esta zona pessoas com os apelidos, entre outros, de: Abreu, Passos, Medeiros, os quais se tornaram antepassados da quase totalidade das pessoas do tempo presente que aqui encontram raízes.

Se, na genealogia da região, os Abreu têm diversas proveniências, já os Passos e os Medeiros, tanto quanto as nossas pesquisas permitem saber, têm origem nas mesmas exatas pessoas: Manuel de Medeiros e Gaspar de Passos, portanto, os genearcas destas famílias, ambos aqui chegadas há quase meio milénio com o ofício de tabelião, conforme atesta a imagem supra, onde os mesmos são referenciados nessa qualidade.

Se os Medeiros se instalaram, inicialmente, junto à Vila da Aguda, tendo um seu neto, de nome Francisco, já nos anos seiscentos, vindo para o Avelar, onde casou com uma filha de uma das mais importantes famílias daqui, os Afonso, do Castelo; já os Passos logo vieram habitar a senhorial Quinta da Rascoia, por volta de 1578, sendo estes, por sinal, também avós, pela parte materna, do dito capitão Francisco de Medeiros e Passos.

Igualmente, encontramos referências a outras pessoas desse mesmo tempo, isto é, um pouco antes ou um pouco depois do ano 1600, com apelidos que parecem ser localmente recentes, nomeadamente: Faria, Presença, Pestana, Rego, Nunes e até mesmo o prestigioso apelido medieval de Avelar. Anteriores parecem ser os apelidos: Manso, Simões, Fernandes, Lopes, Afonso, Vaz, etc.

No caso do apelido Avelar pode-se pôr a hipótese, verosímil, de o tal António de Avelar ser daqui, tendo a sua família tomado o nome da Vila, mas, pode não ter sido esse o caso, tanto que terá aqui exercido a função de alcaide, cargo de natureza policial normalmente atribuído a alguém vindo de fora. Certo é que este apelido, muito frequente na Vila do Avelar no século XVII, ainda subsiste na região.

Estas pessoas, que no tempo de domínio senhorial dos marqueses de Vila Real aqui se integraram, tornaram-se parte efetiva na nossa genealogia, pelo que, em futuros Apontamentos, os havemos de revisitar com um pouco mais de detalhe.
Após 1640, com o fim da casa de Vila Real dos Meneses Noronha, novos senhores assumiram aqui o poder senhorial, concretamente, os príncipes reais da Casa do Infantado. Por essa razão, outras pessoas de diferente procedência por aqui passaram e, por vezes, também ficaram, como veremos.

Ressalva-se que, no artigo anterior, Apontamentos (11), onde se lê “Filipe IIIº de Portugal”, deve, em bom rigor, ler-se “Filipe IIIº de Espanha, IIº de Portugal”.