O Concelho do Avelar

Por Raul Manuel Coelho

Assunto debatido por historiadores é o de se saber qual era o limite, a sul, nesta região, do território que Dom Afonso Henriques considerava como sendo o do seu Reino em 1143. Tal questão coloca-se, também, para o tempo imediatamente anterior, o decorrido desde a conquista definitiva de Coimbra, em 1064, pelo Rei de Leão, Dom Fernando o magno; tendo esta Cidade então ficado, por muitos e bons anos, sob o governo do moçárabe Conde Dom Sesnando.

Sendo razoável pensar que, durante esses tempos, a influência sobre as terras abaixo do Mondego oscilaria entre os Muçulmanos e os Cristãos do norte, os quais, entretanto, trataram de promover uma rede de castelos defensivos, tal poderia implicar uma zona considerada de ninguém, muito despovoada, atravessada por uns e outros nas respetivas incursões de saque em fossado e razia; isto, sobretudo, a oeste do território Avelarense, dado que, daqui para nascente, se encontrava algum abrigo, sustento e segurança nas partes da Serra.

Relevante neste contexto é, pois, o texto do Foral de Penela, datado de 1137, outorgado pelo então futuro primeiro Rei de Portugal, no qual constam diversas referências delimitadoras do respetivo Concelho e, por conseguinte, das terras consideradas a sul como sob o seu domínio, colocando-se, assim, a importante questão: se o Avelar, então, dele faria parte, ou não.

Quem no século XX mais se dedicou, brilhantemente, ao estudo desta região, à época, foi o doutor Salvador Dias Arnaut, historiador e médico, natural do Pastor, Penela, descendente de Avelarenses em toda a sua linha varonil: o seu pai crescera na Rascoia, terra natal do seu avô.

Em nosso entender, contrariamente ao que muitos têm divulgado, incluindo Entidades Públicas, talvez por equívoco na interpretação das sábias palavras do Mestre, a indicação expressa do topónimo Avelal, não consta no texto do aludido Foral. Tanto que, se assim fosse, não restaria qualquer dúvida, e o Avelar, nesse caso, teria sido parte daquele outro Concelho. Porém, a mais antiga designação explícita ao Avelar, comprovada, que conhecemos, é a que consta no Foral do Avelal e Almofala (Aguda) datado de novembro de 1221, a qual ilustra este texto. Nem na doação em Senhorio destas terras, feita por Dom Afonso II em agosto desse mesmo ano, aparece escrito o nome do Avelar, ou Avelal.

Considerando a interpretação que fez do texto do Foral de Penela e as suas minuciosas pesquisas locais e documentais, a convicção de Arnaut, não o podendo atestar de forma absoluta, todavia, era que o limite do Concelho de Penela se estendia até à linha da própria Ribeira d`Alge, derivando no porto das Lages para o Monte da Ovelha (junto a Lisboinha, Pousaflores), comportando, deste modo, as terras do Avelar, da Aguda e de Chão de Couce. Nessa sua aceção, o Concelho do Avelar teria sido destacado do de Penela em 1221.

Contudo, diversos outros aspetos, que aqui não cabe enunciar, incluindo uma tradução revista do conteúdo original, em latim, do Foral de Penela, relativa a uma expressão concreta nele contida: “currit aqua ad illum flumen de Alsie”, publicada em 2015 pelo doutor Jorge de Alarcão, arqueólogo e historiador, permitem talvez, nos dias de hoje, conjeturar uma hipótese substancialmente diferente, podendo nós, assim, admitir que a fronteira sul desse Concelho não abarcaria o Avelar e a Aguda; antes já respeitava, aproximadamente, a atual linha de fronteira: descendo, vinda da serra, passando a sul de Câneve, junto à Louriceira, seguindo pela antiga estrada na Tojeira, até às imediações do dito porto das Lages.

Em suma, o nosso entendimento presente, naturalmente sujeito a futuros desenvolvimentos, é que, dispondo da sua própria autonomia, o território Avelarense nunca terá integrado o Concelho de Penela, ao qual, por exemplo, grande parte da Freguesia de Chão de Couce pertenceu até 1836; nem, tão pouco, se encontra escrito no Foral daquele Concelho o topónimo “Avelal”.