Senhorio medieval – até ao séc. XIII
Por Raul Manuel Coelho
Com sucessivas incursões na região, entre os séculos XI e XII, e subsequente imposição, em definitivo, do respetivo domínio, os cavaleiros cristãos vindos do norte, sobrepuseram-se à influência muçulmana que durante mais de três séculos perdurara sobre as terras e gentes da região do Avelar, as quais, em grande medida, haviam, ainda assim, permanecido cristãs, o que lhes fora permitido pelos mouros, vivendo e governando-se a si próprias com grande autonomia.
Os novos senhores recém-chegados, menos tolerantes e mais exigentes de tributos e honrarias, por sua própria vontade, teriam logo submetido as comunidades locais novamente à servidão, tal como no tempo dos visigodos, e no modo praticado, naquela mesma época em algumas regiões do norte.
Contudo, sendo necessário reforçar o povoamento e a defesa dos novos territórios sob seu domínio, a organização do novo Reino viu com bons olhos as comunidades concelhias existentes, reconhecendo-as, como é o caso do Avelar, e criando outras. Ainda assim, a ideia feudal de fundo encontrava-se sempre latente: “nenhuma terra sem senhor”.
Se nas primeiras décadas, após a sujeição aos nortenhos, as terras Avelarenses ficaram sob domínio Real. Anos depois, estes direitos foram sendo doados a grandes Nobres. Como vimos, no artigo anterior, a partir de 1221, Dom Martim Anes de Riba de Vizela tornou-se o Senhor do Avelar e da Almofala de Aguda (na ilustração: fotografia de Henrique Dias obtida no antigo Rossio da Vila do Avelar, em 13 de novembro do ano passado). Sucederam-lhe outros senhores, os primeiros dos quais, pelos poucos dados que conhecemos, seriam seus familiares e descendentes.
É, pois, provável que o senhorio do território Avelarense tenha passado para o filho de Dom Martim Anes; de seu nome, Gil Martins de Riba de Vizela, então, um dos nobres mais ricos do Reino; sendo certo que, duas filhas deste último surgem, depois, documentadamente, como detentoras de direitos na região. Uma, Dona Constança Gil, com a Quinta de Chão de Couce; outra, Dona Teresa Gil, com os direitos sobre a Rapoula. Este tema, aliás, daria um excelente objeto de estudo para uma tese académica em história medieval, tantos são os documentos, requerendo leitura paleográfica, que se encontram por estudar nos arquivos, e nos quais poderá haver dados importantes relativos ao Avelar e à região circundante.
Pelo que vai dito, terão os filhos de Gil Martins repartido os proventos das terras Avelarenses, ficando a parte maior com o primogénito, Dom Martim Gil, irmão das ditas senhoras, o qual foi Alferes-mor de Dom Dinis, Mordomo da Rainha Santa, promotor do célebre livro velho das linhagens, Tenente de Penela, e pai de um outro Dom Martim Gil, o 2º, este usando os apelidos: de Sousa e de Riba de Vizela; e que, por sua vez, viria a ser também o muito elevado e distinto 2º Conde de Barcelos, casando com Dona Violante Sanches Teles de Meneses.
A referida Teresa Gil de Riba de Vizela mudar-se-ia para o Reino de Castela-Leão, talvez quando o seu pai ali se exilou em 1265. Os direitos sobre as terras da Rapoula passaram, depois, por força do seu testamento, a pertencer, como é sabido, às freiras do Mosteiro do Espírito Santo de Toro, Zamora, fundado em 1307 por esta Portuguesa. Quem sabe, se a ligação a este cenóbio não estará relacionada, de algum modo, com a consagração, tempos mais tarde, do orago da Paróquia do Avelar ao Divino Espirito Santo.