Senhorio medieval – séc. XIV

Por Raul Manuel Coelho

Se, durante cerca de um século, o senhorio das Terras Avelarenses terá estado na casa senhorial dos Riba de Vizela, então também titulares da antiga casa e linhagem dos da Maia, as quais cessaram com a morte, em 1313, sem descendência legítima, de Dom Martim Gil o 2º, uma outra família muito fidalga, no decorrer do século XIV, ir-se-á apoderar de direitos e privilégios nesta região; trata-se dos Teles de Meneses.

A tal processo talvez não seja estranho o facto desta linhagem nobre, em 1354, ter retomado a titularidade do condado de Barcelos, o qual, pelo meio, pertencera também ao dito Dom Martim Gil, dado que este se havia ligado pelo casamento àquela família.

Se o senhorio do Avelar, com o fim dos Riba de Vizela, possivelmente, retornara para a esfera de decisão da Coroa Real, podendo, assim, ter estado, por mando de Dom Dinis, com o seu filho bastardo Dom Pedro Afonso, o 3º Conde de Barcelos, figura maior da cultura medieval, sobretudo durante o reinado de seu meio irmão, o Rei Dom Afonso IV, certo é que, depois, o Rei Dom Pedro I concede, em 1363,  ao seu Mordomo-mor, designação à época dada ao principal Ministro, então Dom João Afonso Telo de Meneses, 4º Conde de Barcelos, depois também 1º Conde de Ourém, a generalidade dos direitos e jurisdições senhoriais dos Concelhos de Couce, Avelar e Rapoula, reconhecendo-lhos, (na imagem parte do respetivo documento oficial, arquivado na competente chancelaria régia), bem como, por esse tempo, os privilégios de outras Terras na região; tanto que este nobre, já em 1360, era o patrono da Igreja da Aguda, na qual os moradores do Concelho do Avelar tomavam parte como paroquianos. Este referido fidalgo é o tio da Rainha Dona Leonor Teles, consorte do Rei Dom Fernando. Um filho deste Conde Dom João, também seu homónimo, viria a ser o 1º Conde de Viana do Alentejo e o Alcaide da Vila de Penela, o qual, aquando da crise de sucessão dinástica de 1383-85, viria a ser morto pela ação popular do famoso herói Caspirro, este, muito provavelmente, morador na Freguesia da Cumieira.

Com a queda em desgraça dos Teles de Meneses, partidários do Rei castelhano, e com o triunfo do Mestre de Avis, feito Rei, Dom João I, nas Cortes de Coimbra, no local da atual sala dos Capelos da Universidade, então um antigo Paço Real, terão estas Terras voltado, bem como as de Penela, para o domínio e proveito D’el-Rei, mas, apenas temporariamente.

É que, entretanto, o filho deste último Conde João Teles de Meneses, o que perdeu a vida aqui perto, e que, por isso, ainda criança se achara exilado em Castela com a sua mãe, feito homem, regressou por sua decidida e inabalável vontade ao Reino de Portugal, tendo participado ativamente na expedição que culminou na tomada da cidade de Ceuta em 1415. Como resultado, apesar de ser ainda muito jovem, e na indisponibilidade de outra melhor opção, ali foi feito Governador daquele enclave em África, tendo prestado valorosos serviços; trata-se, pois, de Dom Pedro de Meneses. O apelido Teles, convenientemente, fora descartado.

Assim, nesse contexto de grande prestígio, que granjeou, viu reconhecidos e confirmados os alegados direitos e privilégios no Avelar, Chão de Couce, Aguda, e Maças de Dona Maria, aos quais acrescentou, por compra, outros, nomeadamente, em Pousaflores e na Rapoula, estes últimos adquiridos às freiras do Mosteiro de Toro. Porém, já não terá obtido concessões em Penela, Vila que ficava para o Duque de Coimbra, o Infante Dom Pedro, chamado “o das sete partidas”.

Bem se pode dizer que foram, deste modo, congregadas sob um mesmo senhorio, o de Dom Pedro de Meneses, e seus sucessores, todas as terras que, assim, constituiriam a unidade, a partir de então, designada de Ouvidoria ou Comarca das Cinco Vilas.